Ultraje a Rigor – “Filha da Puta” (1989): A polêmica que atravessou décadas
Poucas bandas do rock brasileiro dos anos 80 souberam unir irreverência, crítica social e humor ácido como o Ultraje a Rigor. Em 1989, o grupo lançou uma de suas faixas mais controversas: “Filha da Puta”, um single que, mesmo sem grande apoio das mídias tradicionais da época, se tornou cultuado entre fãs e ganhou sobrevida nas décadas seguintes — especialmente diante do acirramento político recente no Brasil.
Em qual álbum a música está incluída?
“Filha da Puta” foi lançada originalmente como single em 1989 e, posteriormente, passou a integrar coletâneas e relançamentos do Ultraje a Rigor no início dos anos 1990. Assim como outras faixas provocativas da banda, ela circulou intensamente em shows e rádios rock alternativos, consolidando-se dentro do repertório clássico do grupo.
Compositores
A música foi composta por Roger Rocha Moreira, líder do Ultraje a Rigor e responsável pela maioria das letras da banda, mantendo o espírito satírico e crítico que marcou toda a trajetória do conjunto.
Lugar nas paradas
Embora tenha tido forte repercussão popular entre fãs do rock nacional, “Filha da Puta” não figurou oficialmente nas grandes paradas brasileiras da época. O motivo é simples: rádios convencionais tinham grande resistência em executá-la devido ao palavrão explícito no título e no refrão, o que aumentou, paradoxalmente, sua fama underground.
Ultraje a Rigor - primeira formação. Foto: site oficial da banda.
O significado da música nos anos 80
A expressão repetitiva do refrão era menos uma ofensa individual e mais um desabafo coletivo diante das turbulências econômicas e do desgaste generalizado com a classe política.
O que ela representa no cenário político atual
A canção passou a expressar:
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o desgaste do eleitor com promessas não cumpridas;
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a sensação de repetição de erros históricos;
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o humor ácido como válvula de escape em meio a crises políticas e econômicas.
Sua atual ressignificação mostra como uma obra pode sobreviver ao tempo justamente por sintetizar emoções atemporais.
Visão crítica do single
O Ultraje sempre transitou nesse limiar: ironizar o mundo ao redor usando termos explícitos sem perder o caráter satírico. No caso desta faixa, o exagero linguístico é, justamente, a ferramenta artística.
Formação anos 2000. Foto: Site oficial da banda.
Curiosidades
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A música chegou a ser vetada em diversas rádios FM, o que contribuiu para seu status de “proibida” — e, portanto, mais desejada pelos fãs do rock.
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Em shows, era frequentemente pedida pelo público, tornando-se uma das faixas “clandestinas” mais icônicas da banda.
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O Ultraje sempre se destacou por provocar debates sobre moral, política e comportamento; “Filha da Puta” marcou uma das fases mais irreverentes e ousadas do grupo.
Como os intelectuais do rock analisam a música
Entre críticos e estudiosos da cultura rock brasileira, a avaliação costuma seguir duas linhas:
1. Como obra satírica e de protesto
Intelectuais que estudam a música dos anos 80 veem na faixa um retrato do humor contestatório característico da época, no qual bandas como Legião Urbana, Titãs e Ultraje a Rigor exploravam — cada uma à sua maneira — a tensão social pós-ditadura.
2. Como peça polêmica que simplifica o discurso político
Alguns analistas consideram que a música, por sua linguagem direta, pode ser interpretada como redução grosseira de problemas complexos, algo que se encaixa em uma tradição de crítica social pela via do deboche.
Ainda assim, há consenso em um ponto: a força da música está na sua espontaneidade popular. Não foi feita para agradar críticos, mas para ecoar um sentimento. E conseguiu.
Roger Moreira: Fundador, compositor e líder da banda.

Muito obrigado! Análise perfeita!
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