DJ DE ONTEM E DJ DE HOJE: A PISTA E SUAS HISTÓRIAS!
Muito antes de existir pista de dança, cabine iluminada ou multidões pulando ao som de graves, alguém já selecionava músicas para outras pessoas ouvirem. No início do século XX, com o surgimento do rádio e da música gravada, operadores e apresentadores passaram a tocar discos de vinil para o público, inaugurando uma nova forma de mediação musical. Foi apenas na década de 1930 que essa função ganhou nome: o comentarista americano Walter Winchell passou a chamar esses profissionais de “disc jockeys”, termo que seria registrado oficialmente na imprensa no início dos anos 1940.
Décadas depois, quando essa função saiu do rádio e conquistou as pistas, ser DJ não era um sonho fácil — era quase um privilégio. Nos anos 80, 90 e início dos anos 2000, o DJ não surgia por acaso. Ele era forjado na dificuldade, na escassez e na persistência.
Os equipamentos custavam caro. Muito caro. Toca-discos profissionais, mixers importados, agulhas de qualidade, amplificadores e sistemas de som estavam fora do alcance de quem não tinha dinheiro. Para muitos, a única forma de se aproximar dessa tecnologia era trabalhando em aparelhagens, equipes de som e festas populares: carregando caixas, montando estruturas, aprendendo na prática, observando em silêncio. O acesso vinha com esforço, tempo e, quase sempre, sacrifício.
Não existia internet. Não existia download. Não existia streaming. Cada música precisava ser comprada, importada ou gravada em fita cassete de forma artesanal. E quem tinha, guardava. Compartilhar não era regra — era exceção. Afinal, o outro DJ não era parceiro: era adversário. A música exclusiva era diferencial competitivo. Ter um disco raro significava ter poder sobre a pista.
Nesse cenário duro e seletivo, o DJ precisava mais do que técnica: precisava repertório, visão e sensibilidade. Precisava garimpar sons, antecipar tendências e entender o comportamento do público. E só se tornava realmente conhecido quem tocava nas rádios ou nas maiores festas. O rádio era o selo máximo de reconhecimento. Era ele que fazia um DJ ecoar por todos os cantos da cidade e transformava músicas em verdadeiros hinos.
Foi nesse ambiente de escassez, competição e respeito que surgiram DJs completos. Profissionais que dominavam o tempo da pista, liam o público no olhar e sabiam exatamente quando uma música deveria entrar ou sair. O DJ não falava, não aparecia, não se promovia. Ele deixava a música falar por ele. E isso bastava.
Em Macapá, esse tempo teve nomes que se tornaram símbolos dessa era. ALAIN CRISTOPHE foi um deles (ainda está na ativa até hoje). Referia-me a ele em conversa com amigos como: “homem-festa”, era dono de um gosto musical refinado e de uma curadoria que lançava tendências. Os hits que ele tocava ecoavam pela cidade e ajudavam a moldar a identidade sonora de toda uma geração.
| Dj Ernandes Melo tocando ao vivo nos Estúdio da Rádio 90s Macapá. |
Na mesma época, ainda que muito longe dos holofotes, estava DJ ERNANDES MELO, dono do SOM XAVANTE. Um nome discreto para o grande público, mas respeitadíssimo entre os que o conheciam. Dono de um ouvido absoluto, era capaz de mixar qualquer estilo com precisão impressionante — Arrisco-me a dizer que, conseguiria harmonizar até uma marcha fúnebre. Sua busca constante pela perfeição fazia de cada mixagem um exercício de excelência. Ambos representavam o DJ em sua essência: profissionais completos, tanto nos toca-discos quanto nos CDJs, quando a tecnologia começou a avançar.
Naquele tempo, o DJ não era bem uma celebridade na essência da palavra. Era um autoridade musical.
O mundo, porém, mudou a passos largos. A tecnologia avançou, os equipamentos ficaram menores, mais leves, mais acessíveis e mais inteligentes. O DJ saiu da sombra da cabine e foi para o centro do palco. E com isso, surgiu um novo perfil.
Dj Gigio Boy no Lendário Rubi.
Hoje, o DJ é imagem, presença, voz ativa. Um exemplo claro dessa transformação é DJ GIGIO BOY. Paraense, estiloso e dono de uma identidade forte, ele representa bem o DJ contemporâneo, especialmente na região Norte. Toca de tudo, conversa com o público durante as mixagens, domina equipamentos atualizados e mantém uma relação direta com a pista. Seu sucesso nas redes sociais se reflete fora delas: os lugares por onde passa ficam lotados. O microfone, muitas vezes, substitui o fone de ouvido. O público não apenas dança — participa.
Alok, o maior Dj da atualidade!
Em escala global, esse novo modelo encontra um de seus maiores expoentes em ALOK. Mais do que DJ, ele é um superprodutor. Seus hits atravessam fronteiras, são tocados no mundo inteiro e movimentam multidões. Suas apresentações deixaram de ser simples festas para se tornarem verdadeiros espetáculos, com estruturas gigantescas, efeitos visuais e uma legião fiel de fãs. São mais de 28 milhões de seguidores apenas no Instagram, números que refletem algo ainda maior: arenas lotadas, públicos dispostos a consumir não só a música, mas toda a experiência que o artista oferece.
Esses são apenas quatro nomes que escolhi, em um oceano de DJs espalhados pelo mundo — alguns extremamente famosos, outros quase anônimos. Mas eles ajudam a contar a mesma história: a transformação do DJ, de operador silencioso do som para protagonista do espetáculo.
Talvez a maior mudança esteja no acesso. Hoje, praticamente qualquer pessoa pode ser DJ. A tecnologia democratizou os equipamentos e simplificou processos que antes levavam anos para dominar. Com técnica ou sem técnica, com estudo ou apenas com vontade, o “play” está ao alcance de todos.
Ainda assim, algo permanece intocável. A pista continua respondendo à emoção. A música certa, no instante exato, ainda tem o poder de suspender o tempo e unir pessoas. Isso independe de fama, números, seguidores ou equipamentos de última geração. Vintage ou atuais, os DJs sempre encontram seu espaço e constroem um público fiel — gente que cresce, muda e envelhece junto com a música. Vida longa à discotecagem, essa arte que atravessa gerações. E sucesso também àqueles que simplesmente dão o “play”, porque, no fim, toda forma de música encontra quem esteja disposto a sentir.
Na Rádio 90s Macapá, onde o passado segue pulsando em cada batida, essa história não é apenas memória — é identidade. Porque tocar músicas do passado não é viver preso a ele. É reconhecer que foram os DJs, lá atrás, que ensinaram o mundo a dançar, a sentir e a viver a noite como experiência completa.
Ontem ou hoje, com vinil ou com software, o verdadeiro DJ nunca deixa de existir. Ele apenas muda de cenário.
Mas a história… essa continua tocando.
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